Cinema italiano do pós-guerra
O imediato pós-guerra trouxe o cinema do neorrealismo, destacando-se Roma, cidade aberta, de Roberto Rossellini, em 1946. É importante voltar a essa origem, aos anos 1930 e 1940, que correspondem à inauguração dos estúdios da Cinecittà por Mussolini, atento, como os demais ditadores, à sua imagem e a do regime. A partir de 1943, com a Itália cercada pelos alemães e o bombardeio aliado, abria-se o caminho para o cinema da vida como ela era, com ruínas, fraternidade, miséria. Um cinema documentário, das ruas, quando é visível a tendência a se distanciar da Cinecittà, de recente memória fascista e que para cineastas como Rossellini fazia parte de sua trajetória.
As imagens aqui mostradas se originam nas fotos de divulgação dos distribuidores de filmes no Brasil a partir dos anos 1950 até o fim da década de 1970, e pertencem ao acervo do jornal Correio da Manhã. Permitem ver, ainda que com ausências como a de Pier Paolo Pasolini, uma cinematografia que percorreu as salas de exibição brasileiras, formando o gosto do público, dialogando com os criadores brasileiros e ocupando durante o período do regime militar um pouco do cinema político proibido no país. Entre 1960 e 1980, uma geração de diretores italianos apontou a câmara para um registro ético e engajado: em 1969, Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita, de Elio Petri, com Gian Maria Volonté, apresenta um olhar para a sociedade italiana na qual se divisa a corrosão política das décadas seguintes. Pela retina dos brasileiros passaram ainda as divas que tiveram lugar na cena internacional, nas produções de Hollywood, como as atrizes Sophia Loren, Claudia Cardinale e Gina Lollobrigida.
Em muitos cortes, planos, sequências, um quase onipresente Marcello Mastroianni domina o período do cinema italiano do pós-guerra e nas décadas seguintes, sobretudo de 1960 e 1970. Descoberto pelo diretor Luchino Visconti ainda no fim dos anos 1940, ele estreia em I miserabili (1948), mas é como o jornalista de A doce vida de Fellini que todos passam a amar Marcello. Ele foi também o protagonista de filmes de Antonioni, Ettore Scola e outros cineastas até seu falecimento, em 1996.
Concluímos essa série com O conformista, de Bernardo Bertolucci, famoso por O último tango em Paris, 1900 e O último imperador. Produzido em 1970, a partir do romance de Alberto Moravia, o tema é o fascismo, sua possibilidade histórica por meio da adesão do homem comum. Figura recorrente em tantas produções, essa multidão tomada por Mussolini contrasta com a recusa, a solidão de poucos e a sobrevivência das utopias revolucionárias.