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Política e humor nos alternativos

O regime militar instalado em 1964 teve como uma de suas preocupações centrais o controle da manifestação do pensamento e da informação. Para tanto, instituiu mecanismos de restrição, como a Lei de Imprensa. Outorgada pelo regime militar em 1967, a lei instituiu restrições à prática jornalística, proibindo, por exemplo, a publicação de artigos e reportagens que incitassem a subversão da ordem, incentivassem o preconceito religioso, racial ou entre classes sociais, ou que ofendessem a moral pública e os bons costumes. Por sua vez, a Lei de Segurança Nacional (decreto-lei nº 898/69), em seu artigo 16, estabelecia que a divulgação, em qualquer meio de comunicação social, de notícias falsas, tendenciosas, ou de um fato verdadeiro de maneira truncada ou deturpada para indispor o povo contra a autoridade do Estado, era crime, com pena de seis meses a dois anos de detenção. É neste contexto que se desenvolve a imprensa alternativa.
 
Criados, dentre outras razões, como uma forma de superar o embargo da censura oficial e as limitações jornalísticas engendradas por esta, os jornais alternativos eram um espaço para jornalistas, pensadores e militantes de organizações de esquerda divulgarem as opiniões e reportagens que não poderiam, por uma razão ou outra, ser publicadas nos grandes jornais nacionais. A denominação alternativa indicava uma forma diferente de jornalismo, em comparação àquele feito pela imprensa convencional (ou tradicional).
 
Em geral, os periódicos alternativos que surgiram durante a ditadura militar tinham por característica o repúdio ao regime, ao modelo econômico imposto, à censura e à violência estatal. Em sua grande maioria no formato de tabloide (por isso chamados de nanicos), mas também em formato standart (formato tradicional), os jornais alternativos tinham, quase sempre, tiragem reduzida e alcance limitado a uma determinada região ou grupo social. Contavam com poucos jornalistas e poucos recursos.
 
Não raro, tais jornais eram a voz de grupos específicos, como organizações de esquerda, partidos políticos, sindicatos e entidades classistas, grupos definidos por gênero ou etnia, dentre outros. É possível classificar os jornais alternativos em duas categorias: aqueles predominantemente políticos, que valorizavam os aspectos nacionais e populares em seus artigos (como os jornais Opinião, Movimento, Coojornal, Em Tempo); e aqueles com raízes no movimento de contracultura norte-americana, centrados na crítica contra o autoritarismo e o moralismo dos costumes (caso dos jornais de humor e de temática de cunho social, como o movimento negro, o feminismo, os direitos homossexuais).
 
Para os órgãos de informação do regime militar, imprensa alternativa era sinônimo de imprensa antigovernista. Pela documentação recolhida ao Arquivo Nacional, é possível perceber que o SNI demonstrou preocupação com a atuação da imprensa contestatória, vista como um reduto de comunistas, onde as organizações de esquerda e os movimentos sindicais procuravam infiltrar jornalistas com militância partidária ou "ideias esquerdistas".
 
De acordo com documento produzido pela Agência Central do SNI, a implementação da censura prévia nos jornais tradicionais levou os jornalistas e articulistas, que passaram a ter seus trabalhos vetados, a utilizar veículos de comunicações alternativos, cuja linha de atuação - ainda segundo o SNI - era a contestação ao governo e ao regime e a promoção de uma permanente campanha difamatória contra as Forças Armadas. Para o SNI, no universo dos alternativos, e tomando por base o critério de abrangência de circulação, destacavam-se os jornais O Pasquim, Movimento e Em Tempo.
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