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A influência dos imigrantes e descendentes na indústria de alimentos e na culinária brasileira

A política imigratória brasileira da segunda metade do século XIX até o final da República Velha foi incentivada e subsidiada pelo governo. Seja para a ocupação do território com fins de colonização, seja para as atividades agrícolas em substituição dos escravos, o Estado atuou intensamente no sentido de promover a entrada de imigrantes e na alocação dessas populações no território. 

Todavia, essa política imigratória não era aberta a todos os estrangeiros. O Estado brasileiro estabeleceu políticas públicas priorizando um tipo específico de imigrante, o europeu. Vistos como bons colonizadores e bons agricultores, os imigrantes vindos do Velho Continente eram considerados os melhores trabalhadores para o país. Dessa forma, o Brasil, claramente, excluiu os povos não brancos, tendo sido esse aspecto étnico da política imigratória explicitado pelo decreto n. 528, de 1890, que regulamentava a introdução e localização de imigrantes. Já em seu primeiro artigo, o decreto estabelecia que era livre a entrada de “indivíduos válidos e aptos para o trabalho, que não se achem sujeitos a ação criminal no seu país, excetuados os indígenas da Ásia, ou da África, que somente mediante autorização do Congresso Nacional poderão ser admitidos de acordo com as condições que forem estipuladas”.

Posteriormente, ocorreu uma imigração controlada de japoneses para trabalharem nas lavouras paulistas. A imigração correspondeu a cerca de quatro por cento dos estrangeiros que chegaram ao Brasil entre 1889 e 1930. Ainda assim, segundo o historiador Luigi Biondi, os principais povos que imigraram para o país na Primeira República foram os italianos, portugueses e espanhóis. Juntos, representavam oito de cada dez estrangeiros que vieram para o Brasil no período.

Ao chegarem, os imigrantes tentavam recriar um sentimento de pertencimento. E a alimentação desempenhava um importante papel nesta estratégia, seja em sua produção, preparação ou consumo. Não obstante, os imigrantes oriundos de um mesmo território ou país, em muitos casos, eram de regiões distintas, com motivos diferentes para sua migração, falavam outros dialetos e tinham hábitos alimentares diversos. Ao virem para o país, eram considerados um grupo uniforme pelos brasileiros, que os agrupavam culturalmente conforme o lugar de origem. 

Ao mesmo tempo, por se estabelecerem um uma mesma localidade neste novo país, compartilhando às vezes a profissão e os espaços públicos, originou-se entre esses grupos diferentes uma identidade compartilhada, como aconteceu com os italianos. Assim, da mesma forma que adquiriram hábitos alimentares e práticas culinárias das mais diversas regiões do Brasil, os imigrantes trouxeram e mantiveram consigo seus próprios hábitos e práticas, marcando, da mesma forma, profundamente, a cultura culinária dos brasileiros. 

Essas novidades se fizeram presentes nas empresas criadas por imigrantes e seus descendentes que, muitas vezes, estavam na vanguarda da produção industrial de suas respectivas áreas: no ramo de laticínios, as empresas de imigrantes foram as responsáveis por introduzir no Brasil novas variedades de queijos, como o muçarela, o provolone, o gruyère e o roquefort. A influência dos imigrantes pode ser percebida até em queijos hoje considerados por muitos como tipicamente brasileiros: o queijo prato e o queijo do reino. Por sua vez, na charcutaria foram difundidos embutidos europeus como morcelas, salames, copa. Outros, como a cracóvia, surgiram já no Brasil em comunidades de descendentes ucranianos. 

Os rótulos do acervo do Ministério da Agricultura nesta exposição mostram a variedade de empresas fundadas pelos imigrantes e seus descendentes, sobretudo nos ramos da produção queijeira, dos diferentes produtos de embutidos e na indústria pesqueira.

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